Com
a palavra o Cedablista ROGÉRIO LEANDRO FLECK - PY5DJ, de
Curitiba-PR :
1-
DESDE QUANDO VOCÊ FAZ COMUNICADOS EM CW ?
Fleck
-> Desde que entrei
oficialmente no radioamadorismo, no ano de 1989, tive uma certa
curiosidade por esta modalidade de transmissão. Ficava impressionado
quando sintonizava meu saudoso Drake TR4 - onde será que ele está? -
na sub-faixa de cw e escutava aquela "barulheira esquisita" e
não tinha a mínima idéia do que aquilo significava, pois não
conseguia conceber significado algum naqueles sinais. Movido por duas
características pessoais, sendo elas, a curiosidade e o gosto por novos
desafios, resolvi aprender cw. Entrei em contato com um colega e este,
prontamente, se dispôs a me ensinar cw. Promovemos o "arrebanhamento"
de alguns colegas, fizemos uma turma de 8 pessoas e partimos para as
aulas, à noite, visto que todos trabalhávamos durante o dia. Era um
esforço danado mas tínhamos o objetivo de aprender cw e, em nossas
mentes, era um ponto de honra conseguir aprendê-lo. Havia dias em que o
cansaço era demais e o aprendizado ficava muito prejudicado. Corria o
ano de 1994 e, desta forma, fazem quase 7 anos que realizo contatos em
cw.
2- POR QUE CW ?
Fleck
-> Devo confessar um fato que
acontece com muitos dos nossos companheiros de rádio, bem sabemos.
Inicialmente o objetivo de aprender o cw era apenas para poder passar no
exame de promoção de classe. Éramos todos classe C e desejávamos
alcançar a classe B e a exigência do cw era algo que nos incomodava -
alguém já conhece esta história? Mas como sempre fui uma pessoa
curiosa em vários aspectos do conhecimento, aliado à característica
de perseguir um objetivo e, desta forma, vencer mais um desafio. Estes
foram os motivos de tomar gosto pelo cw. Depois do "mistério"
ter sido desvendado, ou seja, de ter aprendido cw, alguns motivos que me
levam à prática do cw são os seguintes:
a) Monitorar aberturas de propagação através da identificação de
"beacons" existentes nos segmentos de frequências destinadas
ao radioamadorismo
b) A prática do CW melhora a nossa capacidade de memorização e
concentração
c) Com equipamentos simples e baratos pode-se descobrir um mundo até
então desconhecido
d) A utilização de pouca potência possibilita, com relativa
facilidade, efetuar contatos DX muito interessantes porque sinais em CW
são perfeitamente audíveis e distintos mesmo sob alto ruído
e) Existem inúmeros radioamadores e entidades DX (países) que somente
“aparecem na faixa" na modalidade CW
f) O prazer de vencer um desafio, que faz parte da natureza humana.
3 – COMO APRENDER O CW ?
Fleck
-> O aprendizado de cw é um
ponto crítico. Existem inúmeros métodos. Para aqueles mais curiosos
basta procurar livros, artigos, resumos, etc... Tantos métodos já
foram publicados, alguns evidenciando somente o "pulo do gato"
outros com um nível de detalhamento mais aprofundado. Como em todos os
setores da nossa vida a média é sempre o ideal. Extremos inferiores (métodos
superficiais) e extremos superiores (métodos extremamente complexos)
tendem a dificultar o aprendizado. Fazer uma mescla é o ideal. Daí a
necessidade, pelo interesse pessoal, de buscar alguns métodos e tirar
um pouco de cada um. Na minha opinião, há também a necessidade de um
colega para nos ensinar. Isto vai possibilitar iniciar nesta modalidade
sem, entre outros aspectos, os vícios que possamos formar na tentativa
de aprender cw sozinho. Exemplo: ficar contando "traços e
pontos" é um método que faz a pessoa não aprender cw,comprometendo
profundamente a concepção dos caracteres em morse. Alguém tem que
"dar a dica" que o cw deve ser como uma música, bem ritmada
(evitando juntar as letras) e principalmente bem transmitida. Programas
de computador são válidos mas como método auxiliar, e nunca para
aprender somente por eles. Outro ponto fundamental após o aprendizado:
ir para a qrg para, efetivamente, colocar em prática tudo o que foi
aprendido e poder descobrir um novo mundo que existe no radioamadorismo.
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4
- VOCÊ ACHA QUE EXISTE ALGUMA COISA A VER O FATO DO CW NÃO SER
MAIS USADO NAS COMUNICAÇÕES E CONTINUAR SENDO USADO PELOS
RADIOAMADORES ?
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Fleck
-> É mais do que evidente que
a evolução tecnológica avança cada dia mais em direção à novas
descobertas. Descobertas essas que tornam a vida do homem mais simples.
Não se pode negar que a necessidade de abandonar algumas técnicas, com
o passar do tempo, torna-se necessário, afinal o surgimento de
equipamentos que fazem a maioria das coisas para o homem é que exerce
uma grande influencia na decisão de deixar alguma coisa de lado. É
muito fácil conceber que enviar um fax para o Japão é extremamente
mais rápido do que, transmitir em cw, todos os caracteres que constam
da mensagem a ser enviada. Enfim o abandono do cw, como comunicação
oficial, aconteceu em função da facilidade com que os recursos mais
modernos fazem a codificação/decodificação de uma mensagem. Em minha
opinião a utilização do cw, pelos radioamadores, é pelo puro prazer
de praticar uma modalidade de transmissão, como qualquer outra. Não
vejo a nossa prática como uma tentativa de forçar a volta do cw como
comunicação oficial pelo ser humano, longe disto. Vejo sim como uma
forma de ter prazer em transmitir uma mensagem utilizando apenas nossas
condições biológicas básicas, sem a utilização de máquinas para
codificar e decodificar mensagens. Vejo também como forma de manter
viva uma técnica de transmissão.
5 - COMO O CW DEVE SER ENCARADO PARA
NÃO SE TORNAR UMA BARREIRA ÀS CLASSES SUPERIORES DO RADIOAMADORISMO ?
Fleck
-> Todos nós, radioamadores,
sabemos que existe a corrente daqueles que são contra o cw em exames de
promoção de classe e a corrente daqueles que são favoráveis à
inclusão do cw em tais exames. Sem tender a nenhumas das correntes
creio ser possível ver o fato por outro lado. Aquele fato que citei
momentos atrás referente a vencer um desafio, lembram-se? Penso que
todo ser humano tem uma tendência nata a aprender, praticar e
compartilhar conhecimento. Quando aprendemos algo temos um prazer imenso
pois assim podemos descobrir o verdadeiro valor das nossas faculdades
mentais. Quando praticamos estamos, efetivamente, aperfeiçoando métodos
e ganhando experiência de vida. Quando compartilhamos conhecimento
podemos sentir quão gratificante é poder despertar a curiosidade das
pessoas. Mas, referente à pergunta sobre não encarar o cw como uma
barreira: se houver uma imposição legal, como por exemplo, a
necessidade de prestar prova de transmissão/recepção em cw para promoção
de classe, percebam só a grande vantagem que teremos. Teremos total
condição de passar na prova e teremos o prazer de ter aprendido alguma
coisa a mais nesta vida, entre tantas outras que estão à nossa disposição.
6 - CONTE UM FATO CURIOSO QUE TENHA
ACONTECIDO COM VOCÊ NO CW
Fleck
-> Era essa a pergunta que eu
temia. Mas, vamos lá, afinal quem já não teve algum fato curioso, e
marcante, em sua prática operacional ? Certa vez eu estava, na banda
dos 50Mhz, dias antes do CQWW WPX de 1999, aguardando a presença de PYØFM
(Peter - PY5CC, operando de Fernando de Noronha), pois ele havia
anunciado que estaria operando PYØFM. Era meu segundo ano de atividade
naquela banda, o que significa poucos meses de experiência em operação
nos 6 metros. Todos sabem que as condições em 6 metros são muito
adversas e que alguns minutos de abertura são extremamente preciosos.
Assim sendo o aparecimento do Peter seria mais um país para mim,
naquela banda. Correndo o dial, fiquei monitorando a qrg ansiosamente e,
de repente, comecei a escutar os sinais do Peter. Não perdi tempo e
comecei a contestá-lo, desesperadamente. Não obtive retorno mas os
sinais de PYØFM continuavam com uma intensidade muito grande. Continuei
a contestar e nada de retorno. Pensei: "acho que o Peter não está
me escutando", e continuei. Sem muita paciência resolvi me dedicar
a corujar com quem ele fazia qso para determinar algum motivo da não
escuta da minha contestação (poderia ser o fato da antena estar
direcionada para outro lugar). Foi a partir deste momento que pude
conceber a regularidade no espaçamento da tranmissão de PYØFM. Ninguém
estava em qso com o mesmo... era apenas o beacon que o Peter coloca em
operação a cada presença sua, em Fernando de Noronha, para dar
oportunidade do pessoal monitorar aberturas para aquela localidade e
poder “faturar” PYØ em 6 metros. Nem preciso dizer que momentos após
fui até a qrg onde o Peter estava realmente e “faturei” PYØ, de
forma maravilhosa.
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